O determinismo biológico
Leitura e análise de texto.
Outra linha de pensamento que procura explicar o que diferencia um ser humano do outro é a do determinismo biológico, segundo a qual as diferenças genéticas determinam as diferenças culturais. Essa é a velha história de que “o homem é o que é, pois isso estaria no sangue”, ou seja, todas as diferenças entre duas pessoas seriam estabelecidas por meio dos nossos genes. A partir desse tipo de raciocínio, cria-se uma série de estereótipos, tais como: os judeus e os árabes nascem para negociar; os alemães são bons de cálculo; os norte-americanos são todos empreendedores etc. E a justificativa é a de que isso estaria no sangue.
Mas isso é um grande engano, por várias razões. A primeira razão é dada pelos avanços dos estudos genéticos que mostraram que os seres humanos são muito parecidos e muito diferentes entre si do ponto de vista genético. Em termos da porcentagem total de material genético, a variação genética entre dois seres humanos é inferior a 1%. Entretanto, se verificarmos em números, será possível observar que há milhões de diferenças no código genético entre dois indivíduos escolhidos ao acaso. Ou seja, apesar de sermos muito parecidos em termos relativos (uma diferença menor do que 1%), em termos absolutos, isto é, considerando o número de diferenças genéticas, somos muito diferentes (milhões de diferenças entre dois indivíduos). Em outras palavras, milhões dessas diferenças genéticas representam menos de 1% do total do código genético, não importando a origem geográfica ou étnica deles. No entanto, mais de 90% dessa variação ocorre entre indivíduos e menos de 10% ocorre entre grupos étnicos (“raças”) diferentes, mais um argumento para o fato de que há apenas uma raça de Homo sapiens: a raça humana!
Com base em tais informações, é possível dizer que cada um de nós é um ser humano único e tão diferente de outro ser humano que procurar juntar as pessoas para formar grupos distintos (por exemplo, “raças humanas”) não faz sentido. Não existem diferenças suficientes entre os grupos humanos para permitir separar ou juntar os seres humanos em “raças”. As diferenças visualizadas entre populações de continentes distintos são muito pequenas e superficiais, não se refletindo no genoma (constituição genética total de uma pessoa). Mas, mesmo assim, há aquelas velhas questões: Se isso é verdade, por que tantos portugueses são padeiros?
Por que tantos descendentes de árabes são comerciantes? Isso não está mesmo no sangue? Se isso fosse verdade, então Portugal seria um país de padeiros e em todos os lugares onde os portugueses fossem morar eles seriam padeiros. E isso não acontece.
Se aqui há muitos descendentes de portugueses que são padeiros, isso se deve ao fato de que essa foi uma profissão em que vários imigrantes se destacaram, e que eles a ensinaram a outros imigrantes, mas não porque estava no sangue deles ser padeiro. O pão é um alimento de consumo em todas as regiões do mundo, mas isso não quer dizer que só os portugueses façam pão, ou que o façam melhor do que outros povos. Há padeiros chineses, malaios, indianos, botsuanos, alemães, franceses, gregos, espanhóis, russos, chilenos, bolivianos, argentinos, holandeses, japoneses, australianos, moçambicanos etc. E não só portugueses. Há padeiros em todas as sociedades, em todas as culturas. E, se há portugueses em todos esses lugares citados, isso não significa que eles sejam padeiros. Em outras regiões do mundo, eles podem ter se especializado em outras profissões. Logo, é equivocado achar que profissões tenham uma determinação biológica e que exista o determinismo biológico.
Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola.
Questões:
1 -Com base na discussão realizada em sala de aula, nas explicações de seu professor e na leitura do texto apresentado, responda: O que é o determinismo biológico e por que essa é uma postura que deve ser evitada?
2 – Segundo o texto, é possível dividir os seres humanos em raças?
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